quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Cristina Kirchner x Imprensa


Está cada vez mais difícil ser jornalista na Argentina. Mais uma vez, a presidente Cristina Kirchner deu o golpe nos principais veículos de comunicação da capital portenha. Policias invadiram ontem a sede da emissora de TV a cabo Cablevisión, integrante do Grupo Clarín. A ordem judicial que levou à ocupação da empresa partiu da Justiça da província de Mendonza, que atendeu a uma denúncia do grupo de mídia Vila-Manzano, concorrente da Cablevisión e ligada ao regime da presidente Cristina Kirchner.
O site do Clarín afirma que a medida foi determinada em resposta a uma denúncia apresentada pelo grupo de mídia Vila-Manzano, que segundo o Clarín, é “alinhado ao kirchnerismo”. O conteúdo da denúncia contra a Cablevisión, no entanto, não foi divulgado.
Há um processo em Mendoza, no entanto, iniciado por uma denúncia da empresa Supercanal, do grupo Vila-Manzano, no qual as duas empresas se enfrentam. A ação visa a anular a fusão entre a Cablevisión e a companhia Multicanal.
O jornal “La Nacion” afirmou que o grupo Clarín já havia pedido o afastamento da juíza Olga Pura de Arrabal, por supostos vínculos com a Supercanal. Os filhos dela trabalhariam na empresa, e um deles é afilhado de um dos diretores. O afastamento foi recusado pela Câmara Federal de Mendoza.
O governo de Cristina Kirchner afirmou ao "La Nacion" que a Gendarmeria Nacional atuou como apoio auxiliar da Justiça.
A ocupação foi feita por cerca de 50 agentes da Gendarmeria, acompanhados por funcionários da justiça e jornalistas de veículos do grupo Vila-Manzano. O Clarín afirmou que as bolsas das pessoas que entravam no prédio foram revistadas.
A Cablevisión acusou a empresa responsável pela denúncia de uma "manobra com o auxílio de um juiz de Mendoza para tentar intervir na TV”, classificando a ação como um ato “sem precedentes que se inscreve na sistemática campanha de perseguição que o governo nacional realiza contra as empresas do grupo Calrín".

Para editor do Clarín.com, ocupação da Cablevisión foi manobra política
"Foi uma manobra política, afirma Sérgio Danishewsky, editor-chefe do Clarín.com, a versão na internet do jornal. Em entrevista exclusiva ao estadão.com.br, Danishewsky disse que as razões da ação ainda não estão claras.
Mas, segundo ele, a medida teria sido motivada por uma denúncia do segundo maior grupo de comunicação da Argentina, o Vila-Manzano. "É uma companhia que, à medida que cresceu, se aproximou do governo e se distanciou cada vez mais do (grupo) Clarín. Antes não tínhamos uma relação ruim e agora há uma relação péssima", diz.
A Cablevisión não possui jurisdição na província de Mendonza, cidade sede do grupo Vila-Manzano. Ainda de acordo com Danishewsky, a ordem de ocupação foi dada por um juiz de Mendonza que já havia favorecido o grupo concorrente antes, quando suspendeu uma decisão do governo que obrigava os grupos de comunicação a só possuírem uma empresa em cada setor jornalístico. "Não está claro que documentação os militares buscavam. O que sim está claro é que a Cablevisión era um alvo do governo nacional. Por isso, qualquer outro grupo de comunicação que tome alguma ação contra a empresa receberá apoio", acredita.
Para Danishewsky, o evento desta terça deve ser incluído entre uma série de "ações concretas" que foram tomadas contra o grupo Clarín nos últimos anos, como o bloqueio dos Sindicatos dos Caminhoneiros à saída de edições do Clarín, a anulação da licença de operação da Fibertel, provedora de serviços de internet do grupo Clarín e a operação organizada pela FIP (Administração Federal de Ingressos Públicos), quando 300 inspetores estiveram na sede do jornal para solicitar documentação. "Essas medidas ou são impulsionadas ou são toleradas pelo governo argentino", assegura.

Papel jornal
A ação é mais um episódio na escalada das disputas entre o governo e as empresas de comunicação que publicam os jornais Clarín e La Nación, por causa do fornecimento de papel-jornal. O governo usa sua participação acionária na Papel Prensa, única fornecedora de papel-jornal do país, para tentar dominar a oposição do Clarín e do La Nación, maiores jornais do país.
Danishewsky lembra que, nesta semana, o governo tentará aprovar uma lei no congresso que muda a repartição do papel jornal no país. Na Argentina, há uma empresa mista, que pertence a dois jornais (El Clarín e La Nación) e o Estado e que é a única a produzir papel-jornal na Argentina. "O governo quer ser o dono dessa empresa e não mais ter somente uma participação", diz.

Veja o vídeo que os próprios jornalistas do Clarín fizeram na hora da invasão, aqui.
E o vídeo que mostra toda a movimentação durante a ocupação, aqui.

Esperamos todos não termos de ler notícias como essa nos jornais e demais meios. Até amanhã.

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